quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Peseiro e os sinais que ficam do processo de substituição de Lopetegui

Peseiro é o novo treinador do Porto. As memórias que a sua passagem pelo Sporting me deixou é a de uma pessoa correta que conseguiu pôr a equipa a jogar futebol muito atrativo, mas igualmente inconsistente. Foi um ano inteiro de altos e baixos exibicionais que, como todos nos lembramos, terminou naquela fatídica semana em que o Sporting perdeu, a 3 tempos, o 1º lugar, a final da Taça UEFA, e ainda o 2º lugar e acesso direto à Liga dos Campeões.

Desse período negro ficou também a incapacidade que o treinador demonstrou para ter mão no balneário. A forma como Liedson se autoexcluiu do jogo da Luz e o episódio inqualificável que, segundo Carlos Severino, se passou no intervalo da final com o CSKA, nunca teriam acontecido com um treinador que fosse um líder forte.

Os anos que se seguiram não alteraram a minha perceção (nem, creio, a da generalidade das pessoas) sobre as qualidades e defeitos de José Peseiro. Em particular a sua passagem recente pelo Braga que, apesar da conquista da Taça da Liga, confirmou totalmente as impressões que vinham de trás. 

Daí achar que, à primeira vista, o perfil de Peseiro ser totalmente o oposto daquilo que o Porto necessita. Com o plantel que terá à sua disposição, será seguramente capaz de pôr a equipa a jogar um futebol de ataque bem mais atrativo que o de Lopetegui. Por outro lado, isso acontecerá seguramente à custa da segurança defensiva, pois o sistema de jogo de Peseiro colocará a equipa muito mais exposta aos contra-ataques adversários - e como sabemos, a qualidade individual dos centrais e as competências defensivas dos laterais não são propriamente o ponto forte do Porto. Para além disso, o balneário não deverá ser propriamente fácil de gerir - os melhores jogadores sabem que estão de passagem e existem muitos que poderão não ter gostado da dispensa de Lopetegui.

De qualquer forma, considerando a qualidade do plantel do Porto, não podem de forma alguma ser excluídos da luta pelo título.

Mas, na minha opinião, a principal nota de destaque de todo o processo de substituição de Lopetegui por Peseiro é a desorientação revelada pela direção do Porto. Poucas semanas depois de Pinto da Costa ter falado de Lopetegui de forma extremamente elogiosa, o treinador basco foi despedido. Pior, foi despedido sem que a direção do Porto tivesse uma sucessão minimamente acautelada. Não digo que todos os nomes que apareceram na imprensa (Villas-Boas, Jardim, Marco Silva, Nuno Espírito Santo, Luís Castro, Paulo Bento, Sampaoli, Bielsa, Conceição ou Jesualdo, alguns deles tendo sido dados como certos em momentos diferentes) tenham sido efetivamente hipótese para o cargo, mas é natural que se pense que o período de 11 dias que decorreu sem que o Porto anunciasse o novo treinador se deveu a tentativas falhadas de convencer aqueles que eram realmente desejados.

A verdade é que Pinto da Costa e a sua direção já vão numa sequência de 3 treinadores que não tiveram sucesso - Paulo Fonseca, Luís Castro e Lopetegui -, e as condições para que o quarto tenha melhor sorte não são propriamente animadoras: para além da questão anímica da equipa, já se vai falando no desinvestimento no plantel devido às evidentes complicações orçamentais que a eliminação precoce da Liga dos Campeões causou e que a indemnização devida a Lopetegui veio agravar.

Para além disso, há tudo o resto: um orçamento para o futebol altamente desequilibrado e perigosamente dependente das mais-valias de vendas de jogadores, e os indícios de enorme instabilidade dentro da estrutura do clube, que vai desperdiçando uma parte considerável dos seus recursos a alimentar uma legião de comissionistas que parece ter tomado de assalto a política de transferências do clube. Já vi o Porto muito mais longe de se tornar uma espécie de Sporting de Godinho Lopes.